quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Ler e ouvir o que leu, como se ouve um poeta ou olhos outros

   Num sentido é fácil falar comigo: às vezes crianças, por iniciativa própria vem falar comigo, vêem alguma coisa em mim, talvez uma estrelinha na testa, ou algo assim; é fácil eu me comunicar com cães (conversando), passarinhos (conversando assobiando), gatos (ficar hora sentados juntos calados); conversar na rua com as pessoas, passando de como está o tempo para como está a vida da alma, ou da existência, com boas pessoas, pessoas na fila, no ponto de ônibus, mendigos de olhar mais ou menos bom, pessoas bem diversas em pesquisas poéticas, filosóficas e psicológicas; antes conversei com algumas pessoas que me pareciam bons ladrões, prostitutas não decaídas; hoje não mais, pois adoro teologia tomistas, foi-se o tenebroso e belo tempo do nomadismo e da nomadologia (deleuzeana) que quase me matou envenenado; bom, hoje devo amar inimigos, posso continuar conversando com pessoas ruins, ou em situação muito ruim, desde que eu não seja assim, e ajude. Num outro sentido, e em outro momento, deve ser muito difícil falar com uma outra pessoa que traduziu um soneto de um grande poeta alemão, em forma de soneto ao português, sem nem saber o básico desta língua, mas com um bom minidicionário; fica parado no meio da calçada da rua, um tempo, parado, pensando algum problema complexo, teológico, filosófico, de astronomia ou matemática (como o filósofo Sócrates, não o jogador de futebol, rsrs), que fica olhando para o teto, para céu, ou o Céu, a Lua, ou apenas alongando o pescoço pra cima. Às vezes eu estou mesmo distraído e quase completamente absorvido por alguma ideia, sentimento, coisa ou pessoa. Outras estou totalmente perceptivo, que posso ler dentro dos olhos, muitas coisas e com grande fidelidade. Não convém comentar muitas coisas, e não vou dar exemplos aqui como prova, e por orgulho. Pode-se ver, indiretamente, o que eu posso ver, de acordo com o que cada pessoa vê, no que consegue ler dos meus poemas. Hoje eu sei que há uma luz e um amor muito forte e delicado dentro de mim. Que eu tenho lunetas, lupas, um telescópio. Tenho um Hubble e uma luz síncotron; antes às vezes usava bem, outras mal, mas era muito atrapalhado e me vestia mal, e assim vivia no descrédito de quase todos. Hoje estou aprendendo a usar, ainda que esteja começando a realmente aprender a usar, e a me apresentar razoavelmente, o que aumentou muito o crédito e a credibilidade, quando estou tranquilo e não atrapalhado. Grandes, singelas e raras almas comentam do meu olhar e olhos. E vejo suave e profundamente os olhos outros, mesmo por fotos e pinturas, ou estátuas, de séculos ou milhares de milhas de distância, tão perto.

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